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O feminino e o trabalho manual

Inspirada pelo evento Nós, as Mulheres, faço uma reflexão sobre nosso feminino que precisa tanto de um olhar amoroso.

Vivemos uma época de grandes transformações e nos sentimos desorientados com perda de valores, de identidade, sem às vezes sequer saber o que estamos fazendo aqui.

Após as guerras mundiais e a Revolução Industrial, o mundo mudou. As mulheres precisaram sair de casa para trabalhar, assumindo o posto dos homens que foram para a guerra e que muitos não voltaram. Neste período, precisaram “vestir” seu lado masculino por questão de sobrevivência, para alimentar a si mesma e aqueles que dependiam dela. Tornou-se mulher, mãe, mantenedora da casa, trabalhadora; as funções acumularam. Mas descobriram que podiam sim sair de casa e trabalhar e estudar como os homens, tinham plena capacidade para isso. Mas o mundo patriarcal hostil e opressor, fez com que cada vez mais tivéssemos que colocar nosso masculino à frente para termos direito de conquistar nosso espaço. E assim fizemos.

Conto aqui uma história pessoal de uma tia avó, nascida em 1900 e que no início do século passado ousou estudar e se formar cirurgiã dentista. Única mulher da sala na faculdade, pois naquela época as mulheres eram educadas para casar, ter filhos e obedecer aos maridos. Depois de formada, montou um consultório que não conseguiu sustentar porque ninguém confiava numa mulher exercendo a profissão de dentista. Sua sala vivia vazia e penso que vazia ela também estava, depois de lutar para se colocar no mundo e ver seu sonho naufragar.

São décadas de comportamento e modo de pensar masculino que nos afastaram de nossa essência intuitiva, criativa, amorosa, nutridora, e acolhedora. O mundo virou o caos.

Criamos meninas fortes, para lutar contra os homens e não ao lado deles. Competição é a palavra de ordem; ordem é uma palavra masculina. Hoje não sabemos como nos relacionar de forma saudável e colaborativa. Vivemos numa guerra incansável que nos esgota física, mental e emocionalmente num acúmulo de tarefas eterno.

Onde está a capacidade da mulher de renovação e criação mantendo sempre a esperança de um mundo melhor? Dentro de nós, ainda. É preciso olhar para essa sombra, perder o medo de perder espaço se não lutar com as mesmas armas.

A mulher sábia, bruxa, que foi queimada na Inquisição precisa renascer trazendo seus conhecimentos, sua alquimia, sua intuição, conexão com a natureza, com os planetas e estrelas. Perdemos o olhar para nossos ciclos, para a lua, para o parto, para o dar a luz.

É preciso nos reconectar com nosso feminino e as manualidades também fazem parte deste movimento.

Através dos trabalhos das mãos, dos fios, podemos acessar nossa essência adormecida tecendo uma nova história, entrelaçando caminhos, costurando relações, trazendo memórias. Nossas ancestrais se reuniam em rodas de partilha e conhecimento enquanto faziam as manualidades que eram passadas de geração em geração.

Existe uma mágica que acontece quando nos voltamos para dentro e nos enxergamos.

Com esse movimento conseguimos uma pista para nos lembrar de quem somos, a que viemos. Trazemos à tona nossa sabedoria ancestral, a bruxa que habita em nós.

Que possamos a cada dia mais equilibrar nosso masculino e feminino para construir um novo mundo mais delicado e onde todos somos iguais.


Stella Ferreira


Mãe Waldorf, arte manualista, empreendedora, criadora e idealizadora da Fios de Estrela, arteira dos fios desde a infância.


Redes sociais:


Instagram @fiosdeestrela

Site: www.fiosdeestrela.com

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