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O ritmo, a criança pequena e o isolamento social

Atualizado: 14 de ago. de 2020

Dayse Cruz


Quando pensamos em ritmo, imediatamente nos remetemos àquilo que se repete. Segundo Steiner (partindo da perspectiva da Antroposofia para a compreensão do desenvolvimento humano e sua conexão com o Cosmo), a criança nos primeiros sete anos de vida, além de recém-chegada ao mundo terreno, encontra-se em uma fase de intenso desenvolvimento no âmbito do andar, do pensar e do falar.

Para que cresça de maneira saudável, a fim de possibilitarmos que suas potencialidades se desenvolvam, a criança pequena precisa ser nutrida, não só seu corpo físico, mas, também, de alimentos anímicos adequados à sua faixa etária.

Na Pedagogia Waldorf valoriza-se, além do cuidado com as imagens apresentadas às crianças (visto que estas povoam o mundo anímico e influenciam a criatividade e fantasia dos pequenos), a criação e manutenção de um ambiente e um ritmo que proporcionem o crescimento saudável da criança, atentando-se ao princípio dos “5 R’s”: ritmo, rotina, repetição, ritual e repouso.

Com o intuito de auxiliar na criação de um ritmo saudável para as crianças durante o isolamento social, seguem algumas dicas para o estabelecimento de uma rotina harmônica, que possa facilitar os processos que estão acontecendo no ambiente doméstico ao longo da pandemia.

Para estabelecermos um ritmo saudável para a criança pequena, precisamos observar a alternância entre atividades de expansão e de concentração, movimento que a própria natureza vivencia em seus ciclos e estações, bem como a separação entre dia e noite, por exemplo, nos convidando assim a entrar neste respirar, estabelecendo uma profunda conexão com o Cosmo.

Partindo desse princípio, destinamos períodos de, aproximadamente, 45 minutos para a realização de uma atividade pela criança. Então, se ela, logo após ajudar a preparar o café da manhã com a família, puder brincar no quintal, pular corda, tomar sol na varanda, correr, enfim, praticar alguma atividade expansiva, passados 45 minutos, ela precisa hidratar-se e, aos poucos, entrar em um ritmo de concentração, realizando alguma atividade dentro de casa, seja um desenho livre ou auxiliar nas tarefas domésticas.

Se a principal forma de aprendizagem da criança no primeiro setênio é pela imitação, conseguiremos muito das crianças fazendo junto. Se espero que ela guarde os brinquedos, canto uma música e começo a guardar, para que a criança me acompanhe. Ao preparar alimentos, as crianças podem ajudar, seja lavando, cortando (com supervisão do adulto), misturando ou, ainda, colocando e tirando a mesa para as refeições. Incluam as crianças nas tarefas da casa e, com a repetição, esse movimento se tornará cada vez mais fluído e agradável.

Escolha momentos em que a criança possa brincar sozinha, façam combinados: funciona! As crianças sentem-se consideradas ao participar das decisões e isso estimula a sua autonomia e autoconfiança. Pode-se designar um espaço ou alguns brinquedos específicos, com os quais a criança possa brincar enquanto os pais trabalham, por exemplo.



Algumas situações simples do dia a dia podem tornar-se caóticas, porém, podemos transformá-las em experiências muito prazerosas e significativas se conduzidas com imagens, histórias, fantasia, músicas e presença. Às vezes, você não conseguirá que a criança entre no banho, mas conseguirá que ela “visite uma linda cachoeira, de água morninha, no meio de uma floresta encantada”. Pronto! O banho virou diversão e vocês terão tempo para aproveitar o que desejarem depois.

As imagens são mais bem compreendidas pelas crianças pequenas, por isso, não se recomenda a intelectualização precoce, através de explicações racionais com termos que a criança ainda não domina. Assim, notamos a importância de utilizarmos imagens para nos comunicarmos com as crianças, pois, compreendendo melhor o que é esperado, elas conseguirão, através do recurso da fantasia, realizar a proposta com tranquilidade.

As músicas que cantamos enquanto trabalhamos, enquanto guardamos os brinquedos, ou, ainda, o verso antes das refeições, rezar junto na hora de dormir e ouvir uma bela história, são rituais que transmitem segurança para a criança, de modo que atenuam os conflitos, as dificuldades de transitar entre atividades ou tarefas, pois a criança sabe o que virá e se alegra com isso. Nesse âmbito, a repetição assume papel importante, pois os rituais se repetem periodicamente e é interessante que essa frequência seja mantida, a fim de que a criança interiorize a rotina e consiga circular com facilidade entre os ritmos de expansão e contração.

Por fim, mas não menos importante, o repouso é outro ponto a ser cuidado quando olhamos para a criança nos primeiros sete anos. Ela precisa dormir para elaborar suas vivências e aprendizados, para compreender que a vida é repleta de ciclos e tudo é processo, tendo começo, meio e fim. Essa noção também confere segurança à criança e, mesmo que resista, enquanto adultos e cuidadores, precisamos garantir que a criança durma cedo para que acorde disposta a se lançar e atuar no mundo. Como já mencionado, as histórias são grandes aliadas para a hora de dormir, além de proporcionarem um contexto de intimidade e conexão entre pais e filhos.

Desejamos que as crianças possam receber esse olhar cuidadoso tão necessário, fortalecendo, assim, a segurança de que precisam neste momento de tantas incertezas, das quais elas não precisam partilhar. Confiem nos pequenos, eles têm um potencial infinito de aprendizagem e, se formos bons modelos, eles nos imitarão. Desejo, para terminar, que possam contar muitas histórias e que consigam embarcar na fantasia com as crianças, conduzindo com leveza o dia a dia durante o isolamento social.

Por Dayse Cruz - Profª Me. e Jardineira Waldorf - Centro Educacional Alecrim Dourado

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