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Páscoa infantil

Por Nina Veiga


Pensar a Páscoa de forma adequada às crianças da Educação Infantil é um grande desafio. Por falta de conhecimento, cada educador acaba imprimindo de si na hora de falar da data às crianças. Isso pode ocasionar alguns equívocos como a ênfase em imagens que estão acima da capacidade de entendimento emocional da criança. É um assunto delicado e controverso, mas nem por isso deve ficar fora da discussão.



Guirlandas de ovos de Páscoa em uma escola Waldorf

Meu pequeno chegou em casa com uma incrível novidade: "Mamãe, a professora falou sobre a Páscoa de Deus". Sentei. Até hoje, entendo pouco alguns dogmas católicos e não sei por que devemos enfatizar a dor na representação infantil da Páscoa, por isso, não entrarei nesse mérito.

Meu foco é outro: justificar a Páscoa enquanto oportunidade de celebração da vida e adequá-la às crianças. Comecemos lembrando que a Páscoa é derivada de uma festa universal arreligiosa de origem remota. Celebra a chegada da primavera no hemisfério norte, de onde vem a maioria de nossas tradições. O que é a primavera no clima temperado? A volta da vida. A neve derrete e por toda parte brotos começam a aparecer.


Coelhos, ovos e borboletas feitos com fios

Um dos ícones pascais, o coelho, é um dos primeiros a sair da toca em busca de alimento. A primavera traz de volta a comida e com ela as condições de reprodução da vida, coisa na qual o coelho é craque. Daí, sua vinculação legítima com a vida renovada, com a Páscoa.

Outros personagens, que dormiram o inverno todo aparecem na primavera, os insetos. Entre eles, a borboleta, símbolo forte de metamorfose, de transformação que para alguns povos é a representação da alma liberta que ascende aos céus após a morte do corpo físico. Imagem que combina muito bem com o "espírito" da Páscoa cristã e judaica. Afinal, para os judeus, a data comemora a passagem de uma vida de escravidão e sofrimento para uma de liberdade e júbilo na Terra Prometida. É igualzinho na tradição cristã. Nosso querido Jesus estava aprisionado, dentro de uma gruta escura e sai de lá resplandecente, rumo ao céu, cheio de vida real e luz.


A Páscoa é um momento riquíssimo em imagens, mesmo preservando o espírito de ressurreição litúrgico, podemos utilizar símbolos mais apropriados ao imaginário infantil, especialmente em se tratando do primeiro setênio que corresponde à Educação Infantil. Nessa fase, a criança acredita piamente que "o mundo é bom", e essa crença será importante constituidora de ética, de moral, de amor à vida e ao bem.

Descobrir precocemente que há maldade no mundo e muita, até mesmo ao ponto de fazer mal a uma pessoa tão boa e especial pode destruir o germe da confiança para toda vida e podemos imaginar o tanto que isso pode acarretar de ressentimento e reatividade.


Nina Veiga é artemanualista, ativista delicada, educadora steineriana e doutora em educação. Idealizadora e coordenadora das pós-graduações: Artes-Manuais para a Educação, Artes-Manuais para Terapias, Artes-Manuais para o Brincar e o Currículo dos Trabalhos Manuais na Educação Steineriana.


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