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Saúde dental na infância: aspectos médico e pedagógico para terapeutas, educadores e pais.

Atualizado: 14 de ago. de 2020

Alexandre Rabboni


Seguindo os mesmos passos da medicina, a odontologia criou nas últimas décadas uma série de novas especialidades. Vivemos na era da informação e a tecnologia é uma grande aliada, nos fornece imagens e dados para auxiliar nossos diagnósticos cada vez mais minuciosos e precisos. Trabalhos são publicados em quantidade e velocidade cada vez maiores, a saúde, ou melhor, a falta dela, estampa capas de revistas de grande circulação e ao mesmo tempo em que sabemos cada vez mais e temos receitas para quase todos os males, padecemos da falta de integração das mais diversas áreas de saúde. Não é de hoje que se fala em atendimentos interdisciplinares, entendo a necessidade de aprofundamento de cada especialidade, mas devemos lembrar que tudo isso tende ao reducionismo, não podemos de maneira alguma perder a noção do todo através dos princípios que regem a saúde.

Odontopediatria


Dentro da odontologia, a odontopediatria é a responsável pelos cuidados com a primeira dentição, aliás, já existe uma subdivisão chamada odontologia para bebês e também algumas orientações voltadas para a gestante. Acho válida essa busca por atender nosso paciente o quanto antes, até mesmo no útero materno, mas acho que as medidas e orientações que passamos devem ser repensadas. A odontopediatria está estruturada numa visão preventiva, que embora seja mais apropriada que as terapias curativas, ainda assim está muito longe de uma verdadeira busca pela saúde, essa fica mais evidente na salutogênese, termo cunhado pelo pesquisador Aaron Antonovsky, que no final dos anos 70 desenvolveu esse conceito sobre as forças estimuladoras e preservadoras da saúde.

Ao observarmos o trabalho desenvolvido por Rudolf Steiner com a Pedagogia Waldorf, a partir de 1919 e das palestras para médicos proferidas desde 1920 trazendo uma ampliação da medicina, vemos claramente orientações salutogenéticas em busca de uma integração do ser humano. Aspectos da embriogênese e da odontogênese são interligados trazendo a íntima relação existente entre órgãos aparentemente distantes e desconexos, mas que obedecem a processos supra-sensíveis harmônicos.

A forma do dente guarda relações íntimas com a forma humana.

Formação dentária


Segundo a Antroposofia, o corpo humano é produto da intervenção conjunta de quatro tipos de princípios arquetípicos de níveis diferentes e, qualitativamente distintos, denominados corpos. Embora o único corpo acessível à visão seja o corpo físico, os outros três podem ser entendidos pela ação que exercem neste.

Por corpo físico entende-se tudo que é mensurável, dependente das forças físicas e químicas exteriores. Os dentes são verdadeiras ferramentas destinadas a cortar, rasgar e moer os alimentos, para que os dentes sejam tão duros, é necessário que o organismo tenha disponíveis os minerais que fazem parte do esmalte, dentina e cemento, embora esses elementos em conjunto não sejam capazes de erguer um dente.

O corpo etérico se manifesta em todos os processos que ocorrem sincrônica e ritmicamente no tempo, vivificando os tecidos. O etérico é sinal de organização temporal e vital. A atuação das forças vitais faz com que os tecidos cresçam, se reproduzam, se regenerem e cicatrizem. Nos tecidos mais vitalizados encontramos bastante líquido, a desvitalização é acompanhada pela diminuição do teor de água. As gengivas são tecidos onde as forças etéricas estão presentes e são muito atuantes durante toda a vida, diferentemente no dente as forças etéricas estão atuantes até por volta dos 7 anos de idade, onde podemos conferir que todo o esmalte até os segundos molares permanentes já está formado e a criança pronta para ser alfabetizada. Como Rudolf Steiner disse “Pensamos com as mesmas forças que crescemos”.

A atuação do corpo astral é sinônimo de organização espacial e de sensibilidade. A atuação do corpo astral é verificada nos animais e nos seres humanos pela formação espacial e relação com o espaço, movimento. A sensibilidade é inversamente proporcional à vitalidade, quanto maior a sensibilidade maior a chance de adoecer. Segundo Rudolf Steiner “Sentimos com as mesmas forças que adoecemos”. O sistema nervoso tem uma organização espacial perfeita, enquanto o fígado é assimétrico e bem menos estruturado. Essa polaridade pode ser observada na vitalidade da gengiva acompanhada de pequena sensibilidade e o dente por sua vez muito sensível internamente e em sua periferia, e com a camada de esmalte com arestas, vertentes e sulcos perfeitamente esculpidos e sem qualquer vitalidade, 96% substância inorgânica.

O Eu, de natureza espiritual, se manifesta em todos os fenômenos onde há equilíbrio de opostos. Isto se traduz organicamente por formas de simetria complexas e por tendência à morte dos tecidos sob sua influência. A postura vertical humana é o equilíbrio entre todas as direções do espaço, entre as forças da gravidade e as da leveza.

Nas arcadas dentárias temos simetria bilateral e súpero-inferior, notamos ainda a atuação do Eu, no fato de todos os dentes se localizarem radialmente ao redor de um ponto central na boca e vemos a maior evidência de atuação no fato de todos os tipos de dentes – incisivos, caninos e molares- se desenvolverem de forma equilibrada, sem predominância de um, ou de outro tipo.



Erupção dentária


Esse processo de surgimento dos dentes decíduos e depois sua substituição pelos dentes permanentes, guarda íntima relação com algumas fases do desenvolvimento humano. O bebê nasce sem dentes e deve ser amamentado exclusivamente no peito nos primeiros meses de vida. Por volta dos 6 meses de idade começam a surgir os incisivos centrais inferiores e quando estes estiverem totalmente erupcionados, o bebê ganha uma dimensão vertical bucal, que lhe permite engatinhar. Por volta de 1 ano surgem os incisivos centrais superiores, e quando erupcionam por completo e tocam os inferiores, há um novo ganho de dimensão vertical e agora ele já consegue ficar em pé. Colocados todos os 20 dentes decíduos na boca, perto de 24 e 30 meses, o bebê perde sua conformação arredondada e começa a esticar e correr com um movimento mais solto. Por volta dos 6 anos erupcionam os 4 primeiros molares permanentes, e estruturam novamente a criança, para a partir dos 7 anos começar a trocar os dentes decíduos pelos permanentes, se mostrando pronta para a alfabetização. A troca dos dentes acontecerá até próximo dos 14 anos, restando o terceiro molar ou dente do siso, para erupcionar perto dos 21 anos.

Os dentes decíduos, mais arredondados, representam um período pré-natal, mais cósmico, enquanto que os dentes permanentes com suas esculturas mais trabalhadas são formados desde os primeiros dias de vida na terra. Tanto a calcificação quanto a erupção do dente, ocorre dos dentes anteriores para os posteriores, assim como a calcificação se apresenta da cora para a raiz, todo o desenvolvimento se dá no sentido céfalo-caudal. A velocidade de todo desenvolvimento, orgânico e bucal, diminui e finalmente se conclui e se detém.


Flúor e Magnésio


No primeiro setênio o flúor e o magnésio, ajudam o Eu a apropriar-se de um novo corpo. Steiner apontou para a necessidade de equilíbrio desses elementos na formação do corpo humano, sendo que o primeiro participa de processos de endurecimento, consolidação, peso e condensação, enquanto que o segundo atua nos processos que carregam os imponderáveis, luz e calor, para dentro do mundo físico, subtraindo-os do peso e, relaciona-se com processo de dispersão.

De todas as substâncias que existem na terra, é o flúor o que tem maior capacidade de combinação e é considerado como o meio de oxidação mais forte. O magnésio tem por missão, no plano da terra, captar a luz do cosmos e incorporá-la dentro da vida.

Se apenas predominasse o flúor seríamos duros, secos e quebradiços, enquanto que se sobressaísse o magnésio seríamos moles aquosos e vitais.

Durante muitos anos a odontopediatria se pautou pela aplicação irrestrita de flúor, aplicações em consultório e escolas, laboratórios com uma grande quantidade de flúor nos cremes dentais, sendo que em alguns casos ele é inclusive contra-indicado. Hoje já se questiona o uso e muito laboratório vem adotando cremes sem flúor.

No primeiro curso para médicos, XVI palestra em 5 de Abril de 1920 em Dornach, Steiner disse “Os dentes são aparelhos para sugar o flúor no organismo. O ser humano tem, efetivamente, necessidade de pequenas quantidades de flúor em seu organismo, ou irá conquistar uma inteligência que quase o anulará! Devido ao efeito da ação do flúor, a inteligência humana vai sendo limitada a falta de senso ou de discernimento.”

Mais do que oferecermos os elementos em si, devemos trabalhar o organismo e suas formas de absorção de tais substâncias, um exemplo claro é a recomendação feita por Rudolf Steiner em Fevereiro de 1923, de um medicamento que hoje conhecemos como Calciodoron, na época ele disse “Não há necessidade de considerá-lo como medicamento. É uma espécie de prescrição dietética. Para tal não há necessidade de prescrição médica... “

Profilaxia


Devemos ampliar as possibilidades higiênicas e terapêuticas sempre pensando em fatores que promovam saúde e não se restrinjam apenas a prevenir doenças.

O primeiro grande impulso na direção da saúde é o aleitamento materno, que contribui para o desenvolvimento adequado das arcadas e musculatura envolvida, também favorece na definição de uma respiração nasal.

A limpeza da cavidade bucal é muito importante para remoção de placa, após as principais refeições e antes de dormir. A alimentação deve ser baseada em alimentos integrais, cereais e verduras frescas, evitar alimentos industrializados e que acumulem grande quantidade de resíduos. Evitar intelectualização precoce e excesso de estímulos sensoriais, principalmente no primeiro setênio, momento onde está se formando o esmalte de todos os dentes permanentes e por que não todo o organismo.

A terapia com Calciodoron e Co-Calciodoron é indicada nas fases de crescimento, infância e adolescência, pois colabora na formação de ossos e dentes, ele neutraliza a irritabilidade e fortalece o metabolismo do cálcio.



ALEXANDRE RABBONI

Cirurgião dentista formado pela Universidade Santo Amaro em 1998.

Pai de duas filhas, alunas Waldorf desde o jardim de infância, atualmente no ensino médio da Escola Rudolf Steiner. Trabalha com Odontologia Antroposófica desde 2000. Especialista em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares, pela SBOOM.

Integrou o corpo clínico da Clínica Tobias, durante 9 anos.

Atende atualmente na Casa 44, instituição de saúde orientada pela Antroposofia, com mais de 25 anos de atividade.


Na Antroposofia concluiu a turma VI de Formação Médica pela ABMASP.

Atualmente cursa a formação em Medicina Pedagógica.

É diretor da Associação de Odontologia Antroposófica.

Integra o conselho editorial da Revista Arte Médica ABMA.

É diretor de Comunicação e Relacionamento com membros da Sociedade Antroposófica no Brasil.

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