top of page

Tecendo Luz

Por Fernanda Trigo Costa


Era uma vez, num tempo onde todas as casas se tornaram castelos, um pequeno menino que gostava muito de fios. Barbantes rústicos, lãs fofas e quentinhas, linhas delicadas, cordas robustas. Ele adorava amarrar, enrolar e misturar os fios em suas brincadeiras, quaisquer que fossem.

Nesse período, os castelos ficavam escondidos entre as nuvens, adormecidos. Cada família ficava dentro de seu próprio castelo e famílias de reinos diferentes não podiam se visitar.

Em seu castelo, sem poder sair, o menino reparou que os fios foram se multiplicando, pois eram muitas cores, comprimentos e texturas que ele nunca vira antes.

A rainha desse castelo era muito criativa, mas pouco sabia o que fazer com tantos fios. Há muito tempo, quando ela ainda era pequenina, ouvira uma história que dizia que os fios, quando entrelaçados, eram mágicos. Tinham um poder de nos fazer encontrar algo incrível dentro de nós. A história dizia que as mãos que os tocavam conseguiam se fortalecer e emanar uma força vinda do coração de quem os estava entrelaçando, força esta capaz de dissipar luz.

Ao mesmo tempo em que os fios tocavam as mãos e a magia chegava ao coração, a luz do coração chegava aos fios e os deixava ainda mais especiais e poderosos.

Foi então, que a mãe propôs ao menino que dessem formas aos fios. Sabido que era, o menino começou a trançar fios brancos e, empolgado com a luz que já ia se formando nos primeiros pontos, logo se lembrou do Sol que há tempos não brilhava, escondido por detrás das nuvens. A mãe, aquecida pela iniciativa do menino, sentiu que deveria começar pelos roxos e, aos poucos, percebeu que os movimentos de seus dedos eram conhecidos – embora não soubesse de onde – eram genuínos, aconteciam naturalmente.

Assim, o menino já seguiu pelos vermelhos e com muita vontade terminou essa cor rapidamente, percebendo que seus pontos eram mais fortes e bem formados. Então pegou os amarelos, respirando profundamente e sentindo o ar entrar e sair de seu corpo, de forma a tirar de dentro dele o melhor que ele podia fazer. A rainha estava nos fios laranjas, com um leve penar, mas seguiu em frente já pensando nos vários tons de verde que a esperavam.

Mas o menino não a deixou sozinha com os verdes, ele também foi atraído por eles e ambos teceram uma linda manta, com desenhos de folhas e flores, crianças e animais. Por fim, os fios azuis foram entrelaçados com muita calma e tranquilidade, eram a última cor. Juntos, eles resolveram aproveitar ao máximo a luz e magia daquele belo trabalho.

Quando terminaram, não sabiam se era o azul dos fios que ainda impregnava aos olhos, mas perceberam que as nuvens haviam ido embora. Ao se atentarem, notaram que os fios estavam em torno de todo o castelo, colorindo-o e fazendo com que ele brilhasse como nunca, refletindo a luz do sol.

No dia seguinte, os amigos dos reinos vizinhos foram visitá-los, trazendo lindos presente que cada um tinha feito em seu próprio castelo enquanto as nuvens encobriam o céu.


Fernanda Trigo Costa é Nutricionista, Mãe Waldorf e apaixonada por histórias.


Mestre em Nutrição Infantil, tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Alimentação Escolar e da Família.


Professora em cursos de Nutrição e Gastronomia e criadora do Blog Histórias que Alimentam. Ao longo de sua jornada, vem alimentando e sendo alimentada por onde passa.

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


bottom of page